sexta-feira, 15 de junho de 2012

Terapia


É só chegar e começar a falar. Mais falar sobre o quê? O que ela quer saber? Quarenta minutos é muito pouco pra contar a minha vida inteira. Quarenta minutos é muito pouco para contar, se quer, os últimos cinco anos da minha vida. Talvez seja um bom caminho começar tentando explicar por que eu vim até aqui e por que eu passei esse tempo todo protelando essa consulta. Passei anos inventando desculpas. Todas pra mim mesma, pra mais ninguém. Faltava tempo. Primeiro o colégio, depois o vestibular, a faculdade, o estágio e em breve seria a monografia. Desculpas, desculpas. A verdade é que, na minha cabeça, pagar para alguém me ouvir falando da minha vida não fazia sentido. Eu tenho amigos, não sou uma pessoa antissocial. E eu os alugo bastante, diga-se de passagem. Na pior das hipóteses eu poderia marcar uma hora na frente do espelho e resolver meu problema (ok, aí sim eu teria um bom motivo para me consultar).  Eu não desmereço o trabalho do psicólogo, longe de mim. Quem tem casos de depressão e esquizofrenia na família sabe bem o valor que tem esse profissional. Só não achava que um dia, eu precisaria dele para colocar minhas ideias no lugar. Pra mim, o grande trunfo do psicólogo é a imparcialidade. A mesma que os jornalistas deveriam ter quando produzem suas matérias tendenciosas e colocam a ideia pronta na cabeça do telespectador. O psicólogo não conhece você, não é apaixonado por você, não morou com você e não faz parte da sua vida, a não ser durante os quarenta minutos dentro daquela salinha. Com ele, você vai colocar os pensamentos na mesa e ele vai ajudar a organizá-los, simples assim. Tudo bem, não tão simples assim. Entre Jung e Freud, há muito mais do que minha mente de publicitária poderia entender no momento. O fato é que, com as técnicas, teorias e imparcialidade, ele [o psicólogo] consegue fazer com que entendamos o que se passa na nossa cabeça e descomplica esse mundo que tantas vezes parece um grande embaralhado de ideias e problemas.  E na minha primeira experiência de auto-conhecimento-insano-psicológico, a conclusão foi: eu não preciso largar uma oportunidade definitivamente para aproveitar as outras que estão passando por mim. A vida não é tão exata assim. Eu era quem menos deveria pensar desse jeito. Nada é definitivo, nem minhas opiniões, quem dirá os próximos três anos da minha vida. É, e eu precisei de quarenta minutos e um ouvinte imparcial para chegar até aí. Palmas para mim! Ironias à parte, tem sido bastante proveitoso. Quem sabe na próxima sessão eu descubra algum sentimento ou desejo guardado no obscuro do meu subconsciente que se manifesta nos meus sonhos sem eu saber.

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