- Mãe, mas quanto falta para acabar o colégio?
- Ah, filha. Muito tempo ainda.
- Depois da primeira série, o quê que vem?
- A segunda.
- E depois?
- A terceira.
-Se a professora disse que os números são infinitos, as séries da escola também são?
- Não, filha. Um dia elas acabam sim. Mas você vai sempre estar estudando e procurando saber sempre mais...
Lembrou-se do dia em que decidira pular tantas series da escola quantas fossem necessárias para que só lhe restasse tempo para brincar. Lembrou que correu eufórica para tentar descobrir quantas seriam as series a serem puladas. E lembrou também da resposta vaga da mãe. Com as pilhas de fotos nas mãos sentiu de novo o gosto que era só se preocupar em qual rua iria correr. Se na de baixo, de barro, onde podia riscar as marcas de barra bandeira ou na de cima, asfaltada, onde os patins corriam mais fáceis.
Se fosse pensar de novo em quantas series faltavam para ter tempo suficiente para brincar, concluiria que faltava pouco, em relação à distante pré-escola na qual se encontrava naquele flashback. Estava agora na faculdade, aquela de que sua mãe falara que vinha depois da escola, e que não conseguira entender muito bem como funcionava. Parecia tão distante que havia desistido de se preocupar. Mas não tinha, também, parado para pensar que o tempo passaria demais, e já não poderia mais brincar com as suas bonecas preferidas. Não pensou que o tempo seria tanto que elas estariam velhas, talvez nas mãos de outras crianças, talvez esquecidas pelas caixas de mudança.
O problema não seria ela própria estar crescida, não, isso era o de menos. O problema seria uns coleguinhas de rua morando em outra cidade, outros com filhos no colo. Ela brincaria, se não tivesse que procurar um emprego, comprar um carro, financiar um apartamento e planejar seu casamento. A escola até chegaria ao fim um dia, ao contrario do que sua mãe não soubera definir. Um dia ela não precisaria mais dizer presente na sala de aula ou fazer a avaliação final. Mas nesse dia, mesmo sem escola pra bater o sinal as sete da manha, ela não poderia mais brincar, não como brincara no tempo em que ia à escola.
'Mas nesse dia, mesmo sem escola pra bater o sinal as sete da manha, ela não poderia mais brincar, não como brincara no tempo em que ia à escola'.
ResponderExcluirVezenquando bate aquela nostalgia, aquela vontade súbita de querer viver como se tivéssemos dez anos. A vida não para e the show must go on. :)
Isso é mais ou menos o que eu sinto em todo final de semestre...
ResponderExcluirParabéns Mih!Só pra variar, Lindo texto. Você tem futuro :D
show de bolaa mirella :D saudades de bater papo com vc ... beijooss
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