domingo, 20 de maio de 2012

Castelo de felicidade

     Esse amor não existe. É tão fictício quanto o casal da novela das 21h que ela assiste enquanto espera ele voltar pra casa. Os dedos que ele deixou marcados nos braços dela, dera um jeito de disfarçar com uma blusa de manga mais comprida. Mas as ofensas não paravam de latejar na memória. Mais ainda que as feridas espalhadas pelo corpo. 

     É difícil encarar e entender uma situação dessa, aconteça ela por perto ou não. Parece irreal. Vai contra as leis da minha lógica, uma mulher se construir por trás do homem que acha que ama. Pior ainda de alguém que faz questão de diminuí-la. Dependência financeira me deprime, dependência emocional me preocupa. Tantas mulheres bem sucedidas se veem presas a alguém, depositando sua felicidade em um relacionamento que Deus-sabe-por-quê ela acredita que deve manter. Nem precisa chegar ao extremo das agressões físicas. Se eles não se divertem mais juntos, o sexo não dá mais prazer, ELA NÃO GOSTA MAIS DELE. Pronto. Junte suas calcinhas, cate sua escova de dentes e vá atrás de algo que a faça bem. E esse algo não precisa ser outra pessoa. 
     Quem foi que determinou que as boas experiências e os momentos felizes devem estar guardados em qualquer outro que não você? Eu não sou completamente defensora da ideia de que a felicidade só depende de nós. Pode-se dizer até que sou o próprio retrato da romântica crônica. Boa parte dos momentos inesquecíveis vivemos ao lado de quem gostamos. Sejam amigos, família ou o "amor das nossas vidas". O problema é quando isso vira regra.
     O tempo de se descobrir por conta própria e tão valioso quanto os relacionamentos que construímos fora do nosso próprio castelo. E é esse castelo construído internamente que conquista. Cativa quem passa por perto e desperta a curiosidade de quem está do lado de fora. Faz com que queiram entrar. E isso é bom, visitas são sempre bem vindas. Umas ficam mais, outras menos. Algumas praticamente pedimos que se retirem, outras choramos quando partem. O que interessa é que, quando elas forem embora, a construção se mantenha de pé e que, lá dentro, possamos passar um tempo sozinhos, felizes, até que a campainha toque de novo. Ou que não toque. Não vai fazer diferença, há tanto que se fazer, tantas coisas novas para acrescentar ao lugar. É provável que nem se veja o tempo passar.






"Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo e em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos que ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de viver não convencional."
                                              
Chris McCandless - Na natureza selvagem.

2 comentários:

  1. Olá, tudo bom?

    É a primeira vez que eu venho ao teu blog e te digo que estou feliz de ter parado aqui. O texto é muito bacana, e foi uma maneira leve de tratar temas tão sérios e tão fáceis de se aplicar chavões - como é a temática dos relacionamentos humanos e da felicidade.

    Partir de uma pedaço de ficção para começar uma reflexão foi uma grande ideia. Bom trabalho.

    A.José
    www.fogobrando.com

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