quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Fênix

De repente é como se eu visse o fogo tomando conta de tudo a minha volta. Incluindo meus cabelos, minhas roupas e minha alma que queima junto. Mas eu não grito, nem sinto nada. Apenas vejo tudo ser consumido, sentada, diante do espelho, sentindo a renovação.
Dentre as criaturas que mais me fascinam, além de anjos e fadas, está a Fênix. Altiva, suprema e ameaçadora. Exala poder nas penas douradas, como a própria literatura a descreve. Não bastando ter o dom das aves comuns, de ver o mundo de cima e sentir-se maior que os maiores dos animais habitantes da terra, faz ainda do fogo seu aliado. Parte de sua existência e imortalidade.
Noutra vida ou noutra dimensão, eu nasci fênix. Vivi eras e presenciei fatos indescritíveis. Histórias fantásticas e místicas em todos os cantos do mundo, ou em outros lugares para além desse mesmo planeta. Queimei tantas vezes quanto foram precisas. Até o dia em que a racionalidade e o ceticismo dos homens deu o fim à minha imortalidade. Desde então vivo como humana, na minha segunda, terceira, décima vida, talvez. Levo comigo os resquícios de vida mágica. Renovo-me periodicamente conforme os percalços de minha própria existência.
Deixo o fogo queimar as entranhas, as mágoas, o coração partido, a confiança quebrada. Lanço às chamas também as discussões desnecessárias, planos frustrados, fins de relacionamentos, ofensas e feridas. Faço de tudo, combustível. Pra que o fogo se alimente, e, como nas condenações da inquisição, purifiquem a alma. Que tudo vire cinzas e dela renasçam esperanças, amores e determinação. E se preciso que queimem de novo, e que eu viva nesse ciclo infinito em que cabe a minha imortalidade de uma única vida. Por que ninguém morre em vida. Não eu, pelo menos. Vejo meus bons sentimentos inconscientemente renovados. Como a fé que cambaleia entre estudos e graças nem sempre alcançadas. A energia que falta no meio da corrida e volta depois do impulso do companheiro. Ou mesmo a paixão que morre no casamento, mas aparece de repente naquele amigo de tantos anos atrás.  É tudo imortal, invencível. Algumas coisas só precisam de tempo, para que se deixem queimar e então brotem de suas próprias cinzas.
Acreditem ou não, um dia eu já fui Fênix.


3 comentários:

  1. Escreve muito bem e com sentimento. Gostei do seu blog, parabéns!

    =* Sucesso

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  2. Gostei bastante de sua postagem gostaria de indicar um blogger do qual sou seguidor ( http://missaolevealuz.blogspot.com/ )Deus a abençoe.

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  3. Oi Mirella,
    Pelas palavras, vejo que és uma mulher resiliente, parabéns por isso.
    Abç

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