segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Conto


Que virasse uma pizza, então.   

            "Suspirou exausta. Acenderia o cigarro típico dos filmes de Hollywood se fosse fumante.  Cobriu os seios com o lençol e pôs os braços por detrás da cabeça olhando para o teto. Era a primeira vez que levara alguém a seu apartamento que não seu namorado. Namorado que virara ex nos últimos seis meses. O rapaz que agora cochilava em sua cama não era um estranho, porem. Seria demais para sua mente conservadora. Ele não a abraçou carinhosamente, nem disse que era linda. Também não era o que ela desejava. Sentia, com remorso, que de tudo já estava satisfeita. E se pudesse, o transformaria em uma pizza ou um pote de sorvete que lhe seria mais útil naquele momento. Ao mesmo tempo em que julgava a si mesma pelos pensamentos que a levavam a tal atitude, perguntava-se por que, no auge dos seus independentes trinta anos, não poderia levar quem quisesse a sua cama para simples e pura satisfação própria? Sabia que dele não poderia esperar mais que aquela noite (e talvez mais outras sem compromisso) então pra que gastar seus mimos e pose de “boa moça”? A pose que deveria manter quando quisesse que o “bom partido” acreditasse na sua castidade fingida, até que passasse o tempo certo de ser livre sem que o rapaz tratasse-a como mais uma. 
              Naquela noite ela não estava disposta a privar-se de suas vontades para alimentar mais um teatro induzido contra a idéia da mulher fácil interpretada pelos homens. Cansada dos prejulgamentos machistas por exprimir seus desejos e sem medos de más interpretações, ela só queria relaxar. Pela primeira vez, em seu apartamento, queria o que lhe desse vontade. Pouco importava se ele não ligasse no dia seguinte. Talvez melhor que nem lembrasse. Pouparia de ter que agüentar o olhar do moço, aquele de quem deseja apenas as suas pernas torneadas em volta da cintura dele. Ela sabia que era muito mais que isso, só já não seria mais para ele.  Fez o que queria e, melhor então, que ele nem ligasse. Que virasse uma pizza, ali mesmo."

Em contraste com a mulher-pizza do Manual do Cafajeste.

5 comentários:

  1. Bom post, Mirella.
    Mas para o bom partido ela irá manter a pose?
    São mesmo os homens que interpretam a idéia da mulher fácil?
    --
    Enquanto as mulheres ficarem fugindo dos fantasmas do machismo ele existirá.

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  2. É meio complicado de fugir, ele tá lá, escancarado, não só partindo dos homens, mas das próprias mulheres. Deve ser mais fácil submeter-se do que revoltar-se e entrar pra lista das "fáceis", eu confesso.

    Pro bom partido, ela manterá a pose, até o tempo mínimo para ser considerada "de respeito", entende?

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  3. Um tema bem sujestivo para se ler ao som de "Man! I Feel Like A Woman!" - Shania Twain!
    ...Oh, oh, oh, go totally crazy - forget I'm a lady...

    Matheus Denezine

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  4. Oi Mihhh
    indiquei vc pra ganhar dois selos de qualidade blogueiros (:
    passa la no minny.na e pega os selos.

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  5. Eu acho que o bom partido é o cara que ela não deveria precisar esperar o tempo mínimo. O bom partido não divide mulheres em fáceis ou difíceis. As mulheres precisam declarar a revolução feminina ganha. Precisam instituir as novas regras e começar a seguí-las. As mulheres tem que passar da fase da reclamação para a da auto imposição.

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