quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Era Natal, mas isso era o que menos importava.

Não fossem pelos enfeites e pelos papéis de presente espalhados pelo chão da sala de estar, ninguém diria que se tratava-se de uma data especial. Assim era feito todos os finais de semana. Os netos correndo pela casa, as noras conversando na cozinha, o pai e os filhos assistindo televisão. Poderia ser carnaval, ou o aniversário de um deles, eles estariam ali, juntos, às vezes sem ter o que celebrar. Na beira dos seus setenta anos, aquela senhora, que pusera toda aquela família junta, observava. Sentada em um canto vago dos sofás ocupados, via os netos se deliciarem com os presentes simples que comprara cuidadosamente para cada um deles. Pensava consigo mesma na imensidão que se transformara a sua família, e naquela data, a ligação entre eles era mais evidente ainda. Ficava clara na reunião e na forma como se tratavam, que as disavenças e os pequenos problemas eram uma pequena parcela do que enriquecia tudo aquilo. Sim, enriquecia, mantinha-os mais irmãos, mais filhos, mais primos e mais ainda netos. Ela via o quanto aquilo era bom. Nem mesmo a discussão estridente dos filhos interferira em seus pensamentos. Apenas a voz de uma das netas que já falava com ela a certo tempo, sem que ela percebesse:
-Vovó, a senhora tá bem?
Voltou para si e percebeu a preocupação de uma da neta mais velha.
-Estou sim minha filha...
-É que eu queria mais um pouco daquela sobremesa que a senhora fez, ainda tem?
-Claro que sim. Vamos que eu coloco uma taça bem cheia para você.

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