sexta-feira, 22 de abril de 2011

Bola de mentiras montanha abaixo.

    É que mentir é tão mais fácil. A culpa da mentira é menor que aquela da verdade dita sem pudor. Menor do que o peso do sofrimento alheio pelas palavras proferidas por nossas bocas, mesmo que verdadeiras. “Sou eu, não é você” sai mais naturalmente que “eu não te amo mais”. Poupam-se lágrimas, desgastes e discussões prolongadas e doloridas. A mentira é involuntária e conveniente, e passamos a dizê-las como um dependente químico que toma sempre “o último copo”. Só mais essa. E outra. E mais outra. Uma mentira engata na seguinte e a grande bola de neve nos engole. Somos nós nessa grande bola de mentiras rolando montanha abaixo. Cheia de “bom-dias”, “como você está bonita” e “Te ligo amanhã”.
     A mentira passa a ser um requisito social. Mentimos pela necessidade de uma convivência social saudável e relativamente estável. E de tão necessária acabamos acreditando inclusive nas mais desavergonhadas. De tão comum passa a ser verdade. Em um ponto a mentira deixa de ser verdade, ou é a verdade que tem um quê de mentira, ou a mentira que já não é mais mentira. E tudo se confunde. Amor, amizade, carinho, desprezo, indiferença, orgulho, inveja, felicidade, depressão. Vivemos uma verdade sozinha entre quatro paredes e outra, também verdade, ou meio mentira, no mundo fora do nosso. E o que é verdade? Ou mentira?

Um comentário:

  1. "Mentir para si mesmo é a pior mentira".
    Gostei do que escreveu, tão perspicaz.

    Abç

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