Era estranha a sexta em que o telefone de casa não tocava com ela do outro lado da linha repassando a programação do final de semana. E assim foram os dois anos e meio ao lado da Laís. Os dias em que eu dizia estar desanimada, sem querer sair de casa, o discurso de prontidão era: “Amiga, a gente tem que aproveitar as oportunidades que a vida nos dá.” Ela não falava só das festas, ela era intensa em tudo. Fizemos um mês de dança de salão juntas (assim como a academia, o Projete, a Facto, a Dois, os trabalhos da faculdade, tudo), ela cansava os professores do tanto que perguntava. “Nossa, Laís. Outro passo? você não cansa não?” Não, ela nunca cansava. Queria tudo que podia. Podia tudo que queria.
“Ela balança, mas não para!” O Funk agora soa melancólico nos meus ouvidos. A batida dentro do Escort vermelho já de manhã cedo no caminho da faculdade. A mesma batida que dançamos na última festa. Aquela em que todo mundo riu, aquela que você tanto programou, decorou e dançou, dançou, dançou. Balançava e não parava. Falava com todo mundo. E dançava, dançava.
A menina que, no meio da Brasília seca e fria, acolheu a nordestina carente de atenção. Que me apresentou metade das pessoas que eu conheço hoje. Que tanto fez e foi conhecer o calor do meu carnaval pernambucano. E fez todo mundo comentar, de Brasília a Recife, “Animada essa sua amiga, né?”. Eles não tinham visto nada. A menina do Escort, como era conhecida aqui em casa, tinha garra, tinha força. Ai de quem mexesse com ela. Pimenta no nome, Pimenta no sangue. Leonina roxa.
Foram 21 anos bem vividos, se é que qualquer coisa possa justificar essa partida repentina. Foi intenso demais, forte demais. Como tudo sempre foi em você. Dói. Bem mais do que quando você disse que ia pro Rio e eu fiz cara feia. Dói de um jeito que só Laís Pimenta traduziria. Vai com Deus, amiga. Faz tua entrada triunfal aí no céu, dá uma sacudida no lugar e faz tudo ficar “daquele jeito!”.
3 de janeiro, um mês sem Lais Pimenta.